Tudo em minha vida foi uma constante, em todo momento analisei cada passo, calculando os prós e contras, pesando atos e prevendo as consequências. Sempre havia sido assim, talvez fosse uma mania ou um transtorno mesmo. Mas o fato era que funcionava dessa forma. Era seguro, era certo!
Quando entrei para a equipe de natação da escola, vi nas braçadas que dava na piscina uma carreira certa, planejada e bem calculada. Não havia riscos, era questão de cálculos corretos, prever a velocidade e melhorar a minha técnica. Não foi nenhuma surpresa o resultado que obtive depois de dois meses competindo. Assim que terminei o ensino médio, fui contratado por um clube forte e muito respeitado no meio dos esportes. Ser um atleta se tornou uma paixão, eu até mesmo relaxei, parei de controlar tudo à minha volta, comecei a viver mais, confiar nas pessoas e me divertir. Afinal, eu era um jovem rapaz em ascensão.
Talvez o meu maior erro tenha sido deixar a minha vida virar uma inconstante.
Era véspera de uma competição importante que poderia me classificar para as Olimpíadas, estava tão eufórico que mal cabia em mim. Contava para quem quisesse ouvir os meus planos e me vangloriava de tudo o que havia conquistado praticamente sozinho.
Não me importava de treinar até a exaustão, sabia que nada viria de mãos beijadas e ali eu me sentia livre, era como se pudesse voar sem sair do lugar. Treinava naquela piscina desde pequeno, e alcançar o meu auge ali, naquele mesmo lugar, seria uma conquista e tanto.
As braçadas dadas naquela piscina enchiam minha alma de esperança, a cada recorde batido eu deixava que vissem o quanto estava feliz e realizado. Claro que tanto sucesso despertou inveja.
Lembrar daquele dia só me trazia lembranças ruins, sentimentos sombrios...
No ápice da minha carreira, eu fui derrubado. Era um atleta completo, prestes a ser campeão olímpico, quando caí numa armadilha.
Era uma noite de comemoração; a equipe tinha tido resultados incríveis e fomos autorizados a sair da concentração, mesmo às vésperas dos treinos classificatórios. Não pensamos o porquê desse bônus, afinal, o descanso era a receita para um dia de glória na piscina, então, fomos ‒ ou melhor, eu fui ‒, como cordeiros caminhando para a toca do lobo.
Bebemos, comemos, conhecemos novas pessoas e acabei na cama com duas lindas mulheres. Não me lembro muito bem de como tudo aconteceu, parecia que tudo era um borrão. Meu corpo não me obedecia, e a única coisa que nunca saiu da minha mente foi estar no quarto com as minhas acompanhantes e ter visto um dos nadadores principais entrar no quarto, mas achei ser uma alucinação e não me importei.
Foi uma noite de sexo intenso, transei com as duas até desmaiar, ou sei lá bem o que aconteceu. Contudo, o meu pesadelo começou quando despertei. Meu telefone tocava insistentemente, mas já não havia ninguém no quarto comigo, apenas o aroma de sexo e algo mais permanecia.
Quando consegui pegar o celular, a voz do meu pai fez meu mundo perfeito desmoronar.
— Eros, você tá na televisão, meu filho. O que fez da sua vida?
Naquele dia estava tudo terminado, toda a minha vida perfeitamente programada descia ralo abaixo, nunca mais poderia competir. No dia que seria a minha glória fui pego em um exame de doping. Depois do escândalo envolvendo duas prostitutas, drogas, fotos e vídeos da noite enlouquecedora que vivi que vazaram na mídia, os médicos da equipe ficaram loucos e fizeram testes em todos os nadadores.
Eu tinha dezenove anos com sonhos e planos para a minha carreira, perdi amigos, minha família ficou envergonhada, e o mais importante: perdi a confiança que tinha adquirido em toda minha vida.
E mesmo nunca tendo colocado nada ilícito em meu corpo, conscientemente pelo menos, os exames acusaram o uso frequente não só de drogas, mas de anabolizante que aumentava minha capacidade física e de resistência.
Fui expulso de todo o comitê esportista, sem chance de volta. Mas eu nunca me esqueceria do nome e o rosto dos responsáveis pela minha decadência. Eles pagariam pela destruição do meu futuro.
A qualquer custo, eu teria a minha vingança!