Por mais que o escritor possa dar uma personalidade forte ao seu personagem, aproximando-o ao máximo da realidade, o leitor necessita visualizar essa “pessoa”, formar uma imagem concreta em sua cabeça a respeito de quem está lendo. Por isso é tão importante caprichar na descrição da aparência.
A boa notícia é que descrever personagens é bem mais fácil do que descrever ambientes e cenários.
Não existe uma ordem específica sobre quais partes do corpo ou aspectos descrever primeiro, mas o autor pode começar por algo que ache marcante, como “olhos cor de violeta”, “lábios carnudos e rosados”, “um rosto pálido e olhos com olheiras profundas”... Comece pelo que você quer que o leitor visualize primeiro.
Também não há um momento específico da história para descrever o personagem. Não é necessário que se faça logo no primeiro capítulo, muito menos na primeira cena. Até porque esse ato de descrever não pode ser forçado. Não é legal interromper a narrativa para descrever o personagem. Uma dica interessante é que se faça isso em um contexto. Por exemplo: A mocinha se olhou no espelho enquanto se arrumava para sair, então, ela pode relatar o que vê em seu reflexo; o mocinho olhou para a mocinha quando ela desceu as escadas, pronta para encontrá-lo, então ele mesmo a descreve ao leitor, com seu ponto de vista.
Também não é necessário que se descreva o personagem por inteiro de uma única vez. Você pode ir acrescentando informações ao longo da história. Por exemplo: No primeiro capítulo, você escreve uma cena onde a mocinha passa a mão por seus cabelos ruivos e lisos. Já no terceiro capítulo, ela pisca seus olhos verdes. No quinto, alisa o vestido que se colava a seu corpo esguio, e por aí vai. Aos poucos, o leitor poderá ir montando a imagem do personagem, conforme o texto for avançando.
Outro recurso muito utilizado e que torna a parte da descrição menos maçante — uma vez que muitos leitores não têm lá muita paciência para isso — é assimilar um aspecto físico com um psicológico. Por exemplo: Lisa possuía olhos doces e sinceros, de um tom de castanho suave, que poderia se assemelhar ao mogno. Suas sobrancelhas eram finas e bem desenhadas, curvadas, representando sua personalidade sempre curiosa e indagadora.
É importante que a descrição seja um recurso do texto, algo que o complemente, mas que não o interrompa ou o torne tedioso.
Algumas características que podem constar na descrição de um personagem:
Formato do rosto (oval, redondo, quadrado, fino, rechonchudo...);
Estrutura óssea do rosto (maxilares, maçãs do rosto, queixo...) ;
Descrição dos olhos (cor, formato, tamanho...);
Sobrancelhas (arqueadas, retas, cheias, finas, bem feitas...);
Nariz (fino, aquilino, grande, reto, torto...);
Lábios (cheios, finos, curvados, sensuais, rosados...);
Cabelos (cor, tamanho, liso, ondulado, cacheado, calvo, careca...);
Pescoço (elegante, longo, grosso...);
Estrutura corporal (atlético, baixo, alto, gordo, magro, esguio, musculoso...);
Outras características também podem ser incluídas na descrição física do personagem: postura, linguagem corporal, forma de andar, forma de gesticular, como se veste, se usa óculos, se tem barba, se tem cicatrizes... Você pode brincar com a aparência de seu personagem para que ele possa ser visualizado com mais facilidade.
Alguns aspectos físicos podem ajudar o escritor a desenhar a personalidade do personagem. Por exemplo, o formato das sobrancelhas pode dizer muito sobre alguém. Uma sobrancelha mais reta pode dar a impressão de uma pessoa carrancuda. Sobrancelhas muito baixas podem dar um ar mais sinistro, especialmente a um assassino.
Hoje em dia é muito comum o uso de avatares para fazer com que o leitor identifique o personagem como sendo um ator, cantor ou pessoa famosa. Isso facilita o trabalho do escritor, principalmente porque ao usar uma imagem de referência é muito mais fácil caprichar na descrição.