Um simples nó em uma tira deu início a mais um dos meus trabalhos. Mais do que um desafio, a dobragem e a transformação do papel em pequenas e coloridas estrelas tornou-se uma terapia na minha vida. Ou uma espécie de missão, talvez. Não que aquilo pudesse criar um mundo melhor ou mesmo mudar a vida de alguém. Minhas mãos ou minha mente nunca tiveram esse poder. Eu sempre fui apenas uma garota normal. Nada mais do que isso. 995... Deitada aos pés do banco onde eu estava, minha velha cachorrinha dormia profundamente e completamente despreocupada. Às vezes movimentava as orelhas ou as pontinhas das patas, aparentando se divertir em um sonho.
996... Era incrível como, enquanto dobrava aquelas delicadas tiras de papel, eu também me sentia um pouco livre de preocupações. Aquilo me relaxava, tranquilizava e me mantinha subitamente carregada de um sentimento de paz interior. Peguei-me sorrindo enquanto refletia sobre isso. Tinha sido dessa forma que ele dissera sentir-se, quando me ensinou a fazer aquele origami. Na verdade, a minha única preocupação era a de não perder a conta. Cada estrela finalizada era batizada com o seu número na contagem e depositada dentro de um grande e quase lotado pote de vidro. 997... Outra contagem que eu nunca perdia era a do tempo. Quatro anos e nove meses. Quase meia década havia se passado desde que eu dobrei a minha primeira Lucky Star. E um pouco mais tempo do que isso desde que conheci aquela pessoa. Hoje já era bem diferente da menina mimada e egoísta que fui até os 16 anos. Agora, há alguns meses de completar os meus 21, era quase outro ser humano. 998... Sentia saudades, com certeza. Mesmo não sentindo falta de quem eu era, lembrava sempre dos tempos de escola e das coisas que passei. Principalmente do que vivi ao lado dele. As mãos pararam por um momento, ao mesmo tempo em que senti as primeiras lágrimas surgirem. As lembranças dele... Não importava quanto tempo passasse, aquelas seriam sempre as minhas mais preciosas memórias.