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Qualis - Comunicação

Processo de Escrita

Tenho recebido muitos e-mails de leitores que dizem querer escrever seu primeiro livro, mas não têm ideia do quê irão escrever.


E isso é uma coisa que muito me intriga.


Na primeira vez que me sentei para escrever um livro, eu não fazia ideia de que queria ser uma escritora. Na verdade, eu achava isso um tanto quanto absurdo, porque, quando eu tinha meus 14 anos (idade em que escrevi meu primeiro romance), havia pouquíssimos escritores de sucesso no Brasil. Ou seja, eu teria que encarar isso como um hobby.


Mas o problema era que a história, completamente idealizada na minha cabeça, me chamava. Ela parecia ter urgência em ser colocada no papel, exatamente como acontece ainda hoje.


O meu primeiro enredo veio antes de eu sequer sonhar em escrevê-lo. De eu sequer sonhar em ser escritora.


Hoje em dia, uma vez que (graças a Deus) o mercado literário mudou um pouco para autores brasileiros, há uma oferta muito grande de obras nacionais, então, muitos leitores se sentem compelidos a fazerem o mesmo; a também terem seus livros escritos, publicados e ao alcance de várias pessoas. O que é plenamente normal e compreensível. O problema é que para se desejar isso, é necessário ter uma ideia relevante.


Escrever um livro não é uma coisa que acontece da noite para o dia. Não se começa o primeiro capítulo de uma história simplesmente abrindo o Word, naquela sua temível página em branco, e se coloca a primeira palavra. Dessa forma não dá muito certo, eu garanto, já passei por isso. Primeiro, ao menos, tem que se ter uma ideia de sobre o quê se vai falar. E eu não estou falando simplesmente do gênero, é importante que se tenha pelo menos o plot inicial da história, ou seja, um esqueleto do enredo.


Tem que haver todo um planejamento, um trabalho anterior ou há uma grande chance de se ficar perdido logo na página 10. Se é que vai chegar até lá.


O meu processo inicial de criação de um livro consiste em várias etapas. Em um primeiro momento, eu faço inúmeros rabiscos em um papel (muitos deles só eu entendo), tentando "desenhar" a história que está na minha mente. Sempre, no início, ela vem desordenada, um pouco incompleta, depois é que começa a tomar corpo. Ou seja, é nesse estágio que eu crio o ARGUMENTO do livro. É nesse momento também que eu analiso se ele é RELEVANTE ou não. Isso é muito importante.


Depois, em cima desse esboço, crio o roteiro, capítulo a capítulo, contando em tópicos o que irá acontecer em cada um, em ordem cronológica (aliás, eu sempre escrevo em ordem cronológica, mas isso não é uma regra. Há escritores que criam cenas avulsas e depois vão juntando até formarem todo o livro.).

O roteiro é um grande aliado contra bloqueios de escrita. Com ele pronto, você tem diretrizes para não se perder. O que não quer dizer que você não possa burlá-lo algumas vezes. Ele é apenas um guia. Eu, por exemplo, sempre o modifico várias vezes durante a escrita, adaptando-o à própria história. Ideias melhores do que a primeira são sempre bem-vindas.


Em seguida à criação do roteiro, é o momento de conhecer seus personagens. E isso é outra tarefa que exige tempo, concentração e muita criatividade. Nenhuma pessoa é igual a outra. E assim tem que ser com os personagens. É necessário que o leitor se identifique, torça por eles ou simplesmente os odeie.

Ao criar meu protagonista (ou protagonistas, uma vez que escrevo romance e sempre há um homem e uma mulher em foco), eu preciso, antes de mais nada, decidir como será sua personalidade. Se será divertido, sarcástico, se será melancólico... Isso é MUITO mais importante do que a aparência física dele, que é algo bem menos relevante para a história.


Algo que eu sempre faço e que me ajuda muito no momento de criar um personagem é dar-lhe um PASSADO. Mesmo que esse passado não seja mencionado na história. Todo ser humano tem uma história. Seu personagem não nasceu no momento em que se passa o livro (a não ser que seja uma saga, que inicia no nascimento dele e percorre todos os anos da sua vida). Ele precisa ter BAGAGEM, memórias, cicatrizes emocionais, alegrias... isso vai ser fundamental para estabelecer quem ele é hoje, no tempo em que se passa sua história. Um homem que perdeu toda a família em uma tragédia, dificilmente vai ser feliz, saltitante e otimista (a não ser que ALGO tenha acontecido para torná-lo assim).


É importante que isso seja um estudo feito tanto para protagonistas, quanto para antagonistas e coadjuvantes. Todos eles têm que ter um motivo para estar na história. Ninguém deve SOBRAR.


Depois de todo esse trabalho, eu, por exemplo, começo a escrever.


Mas aí é outra história... Acho que eu já falei demais.


Até a próxima!


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