A Netflix, cada vez mais, vem investindo em produções de inúmeros países. Em seu catálogo temos a excelente Dark (Alemanha), a nova The Rain (Dinamarca), a diferente Black (Coréia), a famosa La Casa de Papel (Espanha), dentre outras...
E como não poderia ser diferente, também temos as nossas joias da casa, e 3% é uma delas, destacando-se por fazer parte de um gênero no qual o Brasil ainda não tinha investido: as distopias.
3% começou como um projeto piloto para o YouTube, em 2009, e acabou atraindo a atenção da poderosa Netflix, que comprou os direitos e refez os episódios, com um novo elenco e com algumas poucas mudanças na história, estreando em 2016 e tornando-se a primeira produção brasileira da plataforma.
O enredo é bem típico de distopias, embora a execução seja bem original. Trata-se de um mundo pós-apocalíptico, que conta com uma espécie de divisão de classes. A maioria das pessoas vive no Continente, na total miséria e decadência, com escassez de água, comida e limpeza. A grande minoria vive em um local chamado Maralto. Paradisíaco, com recursos e riquezas em abundância, ele é o sonho de todos. E há uma chance de pessoas do Continente serem "promovidas" para o Maralto: uma seleção chamada de o Processo, onde apenas 3% da população será aprovada, precisando passar por provas físicas, psicológicas e de inteligência.
Mas é claro que nem tudo é tão simples assim. Existe um grupo rebelde, chamado a Causa, que não concorda com este tipo de seleção e faz de tudo para destruir o Processo, causando situações extremas. Além disso, estas provas também mexem com a cabeça de alguns participantes, que estão dispostos a tudo para serem escolhidos, até mesmo trapacear e usar de violência.
Rapidamente a série alcançou o sucesso, principalmente nos países lá fora, tanto que tornou-se a série de língua não inglesa mais vista fora do Brasil. No nosso país, no entanto, ela não emplacou com tanta força. Muitas pessoas alegam, inclusive, que estranham assistir na língua portuguesa e que conseguem aceitar melhor quando deixam o áudio dublado em inglês. Outros, afirmam que se incomodam com a quantidade de palavrões, o que é um pouco estranho, já que produções americanas contam com tantas palavras de baixo calão ou mais. A verdade é que ainda existe muito preconceito com o que é produzido no país, seja literatura, filmes ou séries. Temos esta "síndrome de vira-lata" que faz com que acreditemos que tudo o que vem de fora é melhor, e isso prejudica os produtores de conteúdo nacionais.
Seja como for, 3% é uma série que merece ser vista. Ela trata de problemas sociais usando um pano de funco de ficção científica, além de contar com boas atuações, uma produção mais do que decente, cenários bem construídos e uma história bem amarradinha que deixa brechas para muitas temporadas, já que o universo é tão rico.
Luciane Rangel é escritora, autora dos livros Destinos de Papel e Contando Estrelas, publicados pela Qualis Editora.
Leitora tracinha, dobradora de papel, geek, dorameira, jedi, lufana, além de Sailor nas horas vagas.