Eis aqui um assunto polêmico!
Na verdade, muitas regras da língua portuguesa provocam inúmeros debates, mas acho que nenhum tão grande quanto este aqui.
A verdade é que eu, Bianca, acredito que seja algo mais instintivo do que decorável. Vocês já vão entender o porquê.
A primeira coisa que é indispensável ser dita é que: no Brasil, nós usamos o TRAVESSÃO. Em outros países é comum sinalizar os diálogos com aspas, mas aqui no nosso país outro tipo de pontuação é incorreta.
Atualmente muitas editoras optam por esta segunda alternativa, no entanto.
Outro detalhe que muito confunde, que é o que gera tanta discussão e polêmica, é o uso de letra maiúscula ou minúscula durante uma narrativa que interrompe a fala de um personagem.
Vamos a um exemplo:
— Bom dia — disse Maria.
Este verbo DISSE é chamado de verbo dicendi. O verbo dicendi é utilizado no discuso direto, informando o modo como o interlocutor se expressa em uma fala ou um pensamento.
Alguns exemplos de verbos dicendi: falar, dizer, perguntar, responder, contar...
Sempre que este verbo for utilizado em um diálogo, conforme no exemplo acima, ele deve ser posto em letra minúscula. Além disso, a frase anterior ao travessão NÃO deve conter um ponto final.
Contudo, esta regra não se aplica apenas aos mais óbvios. Lembram-se quando eu disse que se tratava de uma coisa mais instintiva do que decorável? Pois é. Isso se explica, porque sempre que o verbo da frase após o travessão estiver ligado à fala do personagem, ele deve estar em minúscula. Ou seja: sussurrou, observou (no sentido de fazer uma observação, um comentário), vociferou, explicou, cantarolou, cuspiu as palavras (no sentido figurado)... e muitos outros.
Uma forma de analisar isso mais facilmente é pensar se esta pequena narrativa entre falas está DESCREVENDO a forma como a frase foi dita, para que o leitor possa interpretar um pouco das emoções dos personagens ao dizê-la.
Ah, e vale lembrar que mesmo que haja outra palavra antes do verbo, esta outra palavra também deverá permanecer em minúscula. Por exemplo:
— Bom dia — ela disse sorrindo. / ou: — Bom dia — sorrindo, ela disse.
Outra observação importante:
Nestes casos citados acima, não devemos usar um ponto final na frase, porém, podemos usar exclamação, interrogação ou reticência, e mesmo assim, continuaremos com o uso da letra minúscula.
Ex.:
— Bom dia! — exclamou Maria.
Mas, então, quando devemos usar letra maiúscula?
A resposta é: todas as vezes em que a narrativa entre diálogos descrever uma ação feita pelo personagem durante a fala, ou todas as vezes em que o narrador estiver se referindo à ação ou reação de OUTRO personagem àquela fala.
Confuso? Deixa eu tentar explicar com exemplos.
— Bom dia. — Espreguiçou-se Maria, sentando-se à mesa junto à filha.
(Reparem que toda a narrativa foi permeada por ações.)
— Bom dia. — Sobressaltou-se Júlia ao ouvir Maria cumprimentando.
Repare que nestes casos, usamos o ponto final na frase.
Obs: Sintam uma pequena diferença no exemplo abaixo:
— Bom dia — cumprimentou Maria, e Júlia sobressaltou-se ao ouvi-la.
Neste caso, o verbo após o travessão fica em minúscula, porque está se referindo à fala, descrevendo-a, e não dando ênfase à ação, como acontece no exemplo anterior. O que importa é a ÊNFASE dada.
Como eu disse anteriormente, este é um assunto que causa muitas dúvidas, portanto, sintam-se livres para deixarem perguntinhas e dúvidas. Vou ter o maior carinho de responder o que estiver ao meu alcance!
Lembrando que esta coluna é totalmente informal, voltada apenas para auxiliar com dicas e regrinhas.
BIA CARVALHO tem 31 anos, é carioca e autora da Trilogia das Cartas, cujos direitos foram adquiridos para publicação na Argentina, pela Ed. DeCiutiis, e do BestSeller da Amazon, Horas Noturnas. Em 2016, seu conto Ao Anoitecer foi publicado na antologia O Livro Delas, pela Editora Rocco, oriunda do projeto LitGirls Br.