Em um momento em que todo mundo parece ter opinião em relação a tudo e que ninguém está muito disposto a respeitar os gostos do coleguinha ao lado, nem mesmo a literatura não se salva nesse quesito.
Há muitas pessoas que gostam de julgar o que se deve ou não ler; afirmam que alguém que curte apenas entreter-se com livros mais leves, simples e despretensiosos tem menos mérito como leitor do que alguém que devora obras clássicas no café da manhã.
Levando em consideração que vivemos em um país onde 44% da população simplesmente não lê e onde 30% nunca sequer comprou um livro na vida, é necessário considerar que todo tipo de cultura é bem-vinda. O fato de uma pessoa estar abrindo o coração para uma nova história, que irá estimular sua criatividade, aumentar seu poder de interpretação e concentração, além de enriquecer seu vocabulário, deve ser comemorado e não julgado.
Uma pessoa que está iniciando no mundo da literatura e opta por um título como Crepúsculo, 50 tons de cinza ou outra obra igualmente leve e divertida, estará aos poucos tomando gosto pela leitura, começando a se inserir nesse mundo de uma forma que lhe agrade. Se algum dia ela irá acabar voluntariamente escolhendo um livro mais denso ou um clássico, precisará ser uma escolha completamente pessoal. E mesmo que ela decida permanecer entretendo-se com histórias mais despretensiosas, com certeza também é válido, desde que mantenha o hábito.
Esse também é um problema que se enxerga nas escolas. Muitos professores optam por escolher clássicos como Machado de Assis, José de Alencar e afins, obrigando os alunos a lerem tais obras, e muitos desses jovens não estão prontos para embarcarem nesses universos tão densos e complexos. Há muitas obras mais divertidas e condizentes com suas idades que poderiam atrair sua atenção e despertar o amor pelos livros. Porém, textos mais pesados podem, inclusive, afastar o adolescente da leitura, traumatizando-o e causando um desconforto desnecessário.
Clássicos são importantes, principalmente para leitores já formados, que têm uma percepção diferente de mundo e amadurecimento suficiente para interpretar os detalhes com mais cuidado. Por exemplo, um adolescente de 13 anos não terá tanto interesse em debater se Capitu traiu ou não Bentinho, mas quando você analisa a obra com olhos mais experientes, percebe toda a beleza desse impasse.
A leitura precisa ser conquistada. Precisa ser prazerosa e divertida. Abrir um livro deve ser um momento de total imersão, onde o leitor deverá perder-se dentro daquelas páginas por aqueles momentos e sair de sua rotina. Julgar o que o outro está lendo e rotular alguns tipos de literatura como baixa qualidade é algo cruel e desmotivador, coisas das quais não precisamos em um país como o nosso. Erótico, chick-lit, fantasia, comédia, romance de banca, suspense, terror, YA... todas as histórias precisam de espaço. E cada uma delas irá atingir o coração de um leitor de forma mágica e inesquecível.